26 de fev. de 2009

Traz a pessoa amada em 3 dias

(título original: A cartomante – desculpe Machado de Assis, mas o título do cd do canastra é ótimo mesmo. E agora o Dani é um dos. E isso é "muito que melhor" para o mundo todo.)

Atenção: este texto é confuso. Se você é cabeça-dura, leia. Se você não for, também leia. E se você tiver o que fazer, não faça. Fique aqui.

Lá foram as duas atrás da cartomante. Monna, cheia de falsa resiliência; Lisa, repleta de falsa fé.
Lisa saiu atrasada (pra variar). Fez que foi, não foi, esqueceu alguma coisa, voltou e saiu correndo, a querer recuperar o tal atraso, como se isso fosse possível - o tempo, uma vez perdido, não volta mais. É impiedoso e não oferece segunda chance.

Enquanto corria como louca, costurando e reduzindo a fim de enganar os milhões de radares que ela mesma pensava ter ajudado a instalar (tantas as multas já levadas por excesso de velocidade), lembrou que havia esquecido o papelzinho onde anotara o endereço. A única coisa que sabia era: ao lado do motel Floresta (e que na frente da casa, havia uma plaquinha..."traz a pessoa amada em 3 dias"...)

Foi com a amiga rumo àquela viagem que poderia mudar sua vida, seu destino. Sentiu-se um pouco Homero na Odisséia, em sua versão feminina.
O relógio a encarava descaradamente. Ainda no horário de verão ousava enfrentá-la. Só para lembra-la que faltavam apenas 5 minutos! Tinha somente 5 minutos pra chegar ao lugar, e nem sabia onde estava. Cruzou o viaduto sob a BR. Ao acender das luzes, estaria novamente na China? O lugar mais parecia um daqueles bairros sem geografia, arquitetura e ainda aquém da colonização. Mas era ali.

Monna perguntou: - qual a rua?
- A rua cruzava com esta em algum ponto, disse Lisa.
- Que ponto?
- Não sei...
- Como não sei?
- Hããã... esqueci o papelzinho, he-he-he...
- O que? De novo a gente saindo no escuro? E agora?
- Calma. Eu já deixei você na mão? Então. Eu tenho um ponto de referência.
- Então perguntaaaa!
- Calma , não, calma. É um motel.
- O que? A cartomante atende num motel??? Você tá louca?
- Não, o "ponto de referência" é um motel. Por isso tô evitando perguntar. Nós duas aqui sabe comééé...

Monna, despachada: pergunta pra qualquer um!!! Para aí, eu pergunto, eu falo.
- Quê? Olha isso aí! É uma igreja de fanáticos. Quer que a gente seja pendurada de cabeça pra baixo na fogueira??? Mas que droga, você reparou que tudo que é cartomante mora em lugar escondido??? ...Essas duas aí. Vou perguntar pra elas. Oi, tudo bem?, então, vocês (câmera fecha no imenso sorriso amarelo) sabem onde fica o Motel Floresta? Mas não é pra gente não tá???
A moça riu. E elas se perguntaram... ela tá rindo porque é engraçado (não, pq não tem graça nenhuma, e se ela estiver rindo disso, é muito boba, e quem é muito boba...) ou porque parecemos 2 lésbicas mentirosas?

Lisa, após a explicação errada da moça e após subir e descer a mesma rua diversas vezes, caiu, enfim, numa rua sem fim. Todos os lugares e pessoas pareciam suspeitos para perguntar onde era o tal motel. Um velho, um moço, uma caixa e um grupo de seminaristas. Essa configuração de tela era decente.
- Oi moço, vc... vc...conhece... a gente precisa ir num lugar perto do Motel Floresta...
- Onde?
- Num sei. Vc conhece?
- Mas onde é?
Lisa pensou: esse cara aí nunca vai saber quem é a Bruxa do 71 ...
- É na casa da Bruxa do 71.
- A vidente??? Vocês vão na vidente???

Fade-out para o cenário do programa Sílvio Santos. Sílvio pergunta:
E vocês, Monna e Lisa, vieram da caravana de onde?
Corta.
Volta para a cena da rua. O moço decente, o velho honesto, a caixa sincera e todos os seminaristas desconcertados olham para Monna e Lisa.
Neste momento Lisa teve vontande de desistir. Segurou-se para não rir. Uma imensa vontade de rir na cara do homem. A situação era patética. Sentiu o grupo de rapazes, a caixa e o velho radiografarem seu carro. As rodas do seu carro. Seu rosto novamente. Imaginou que até a cor de sua calcinha seriam capazes de adivinhar.

Locução em off (Tony Ramos): O que duas mulheres desesperadas querem da Bruxa do 71 na tarde de uma quarta-feira de cinzas???
Monna pensou em silêncio que eles podiam ser parte do esquema da tal cartomante. Informantes.
Corta.

O carro chega ao número indicado.
As amigas descem do carro. Olham para a casa e a plaquinha "Traz a pessoa amada em 3 dias" e dizem:
- Pelas barbas do profeta! Esta senhoura sabe o que diz. Olha este sítio, ó pá.
Estavam acostumadas, como todas as mulheres curiosas que um dia recorrem às suposições adivinhatórias alheias, a encontrar cartomantes em casinhas bagunçadas, marrons, com vasos de plantas diferentes, plantados em latas e velhos baldes, de onde surgiam cachorros que pareciam ter acabado de sair de alguma centrífuga gigante, com os pelos muito grudados. Às vezes criancinhas pequenas e sujas, chorosas e de chupeta na boca acompanhavam os cães. Na mão, pirulitos que faziam cabelo, mão e chupeta, coisas muito unidas.

Quem atendeu a porta foi a própria dona Frida...
Espanto geral! A adivinhadora carregava um pseudo-nome latino numa pessoa totalmente germânica. Esperavam, além disso, a quiromante de sempre: seios muito grandes e caídos, uma blusa meio branca, meio suja, meio cinza. Lenço no cabelo. Pele enrugada meio marrom. Olhos grandes de jabuticabas maduras. Mas que nada!!! A dona era muito loira, muito magra, muito alta, muito vestida e muito educada. Pronunciava as palavras com um erre, soando ao som de guê. Lisa lamentou ter esquecido, justamente naquele dia, seu Duden Handbook, mas não pode deixar de achar tudo muito sinistro e lembrou que possuía Der Stoff ist von guter Qualität, aber nicht billig, assim, antes de entrar, olhou para D. Frida e disse:
- Heute geht es nicht, aber morgen.
- Doch, das hat sie aber gesagt.
- Das dauert aber lange!
- Können Sie das für mich erledigen? - Aber gern! Nicht war???

Como que hipnotizada pelo que acabara de ouvir de Frida, Lisa perdeu-se em seus pensamentos, enquanto D. Frida, hipnotizada pelo que ouvira de Lisa, abriu os braços e os ofereceu como caloroso abraço - recebido pela resiliente como alento, e pela de fé caduca, como suspeito...
A chave para aquela última e bizarra frase só seria descoberta muitas horas depois...

- Alsdann, quem vai prrimeigo???
As duas se olharam...
Lisa batia em retirada quando a outra perguntou: tem problema entrarmos juntas?
- Neinnnn, problem keinen, nein,nein...
- Mas não tem aquela coisa da minha energia influenciar a energia dela e misturar todas as freqüências energéticas entrantes e errantes das cartas? Hum? Mal tinha acabado de falar, Lisa já pensava: como eu falei isso??? Minha boca tem vida própria. Não fui eu-não fui eu.

D. Frida: oh, nein, mein gott, que imaginaçon...Se as duas não tem “segedos...”
- Não, aqui ninguém tem segredo com ninguém, respondeu Monna...
Não??? Se ela for boa mesmo, vai saber que é segredo e não vai contar. Então, dane-se...pensou Lisa.

E entraram.

Ao contrário do que gostaria Da Vinci, foi Lisa a 1ª e Monna a 2ª. Logo que abriu as cartas, D. Frida olhou para Lisa apavorada e disse:
- mein gott!!! Nein, nein...

Continua...

Um comentário:

d disse...

pra constar, eu não toco em nenhum disco do Canastra...

Monna e Lisa... siiiiiim... claaaaaaaro...

hehehehe