26 de jan. de 2009

Uma decisão importante no dia de hoje

Hoje tomei coragem e entrei no ateliê da minha mãe. Depois de 4 anos. Depois de várias passadas em frente. Depois de várias vezes em que fiquei a olhar fixamente para o imóvel fechado. Depois de ensaiar muitos dias um "hoje eu vou" e sempre, ao chegar no cruzamento principal... passar adiante.
Hoje aconteceu quase a mesma cena. Eu passei. Vi o ateliê aberto. Vi o Hélcio - grande amigo da minha mãe e artista plástico talentoso - e vi alguns homens colocando, no lugar da antiga e grande porta de folhas duplas, um enorme vidro trasnparente. Passei a velocidade devagar o suficiente para observar tudo isso e não parar. Mas, 30 metros a frente, resolvi voltar.

Parei o carro no lugar de sempre. Gritei a mim mesma para não pensar e simplesmente agir. Entrei, pulei vigas no chão e chamei pelo Hélcio. Quatro anos mais tarde, nos abraçamos e enchemos os olhos de lágrimas. Eu me segurei para não chorar porque sabia que aquele choro tardaria a me deixar. Conversamos. Diálogos impertinentes, desconexos, o inacreditável surgindo a todo momento.

O ateliê estava mudado, maior. Agora é uma cooperativa de artistas. Os amigos de minha mãe. Vi alguns trabalhos novos do Hélcio. Modernos, ousados, de cores harmoniosas. Ele disse que iria levar para avaliação de algum marchand, para ver se era "comercial" (artistas precisam sobreviver e por vezes, pintar não o que gostam, mas o que o povo compra).

Aprendi com minha mãe, assim como muitos filhos de artistas plásticos, que no geral as pessoas preferem as artes sem intensidade, sem paixão, mais simples, como as naturezas mortas que eu odeio. Minha mãe mesmo era uma excelente anatomista, porém este tipo de arte não é comercial, pelo menos não para a maioria das pessoas. Desse modo, como seu talento tinha inspiração em Caravaggio - o mestre da luz e das sombras -, ela passou a brincar com formas dentro deste conteúdo.

Enfim, para não divagar, a grande notícia de hoje é que eu posso dizer que "ainda somos os mesmos, e vivemos, como nossos pais..." e aceitei o convite do Hélcio para retornar à pintura. Volto às minhas origens e fico mais próxima à minha mãe. Dos seus amigos. Do seu ambiente. Do seu melhor.