9 de mar. de 2009

Futebol-futebol-futebol-futebol


"Washington passa para Assis que dá um olé no zagueiro do São Paulo...a zaga se arma na grande área, Assis pra Branca de Neve, Branca de Neve de toquinho pela esquerda passa novamente para Assis que arruma a bola no calcanhar e chuuuuuuutaaaaaa ....mas Zé Dirceu espalma a bola e joga pra fora...uhhhhhhh...zero a zero é o placar na Baixada rubro-negra...é falta na grande área, Miltinho continua no chão...é, parece que a falta do atacante do SP tira Miltinho de campo...Geraldino e o Prof.Hildo preparam Roger para a substituição...é bola rolandoooo"


MãaaaaaeeeeeeeeenheÊÊÊ!!! É o pai correndo em volta do campo!!!
Mãe, Cássia, Tio Aragão, Tia Hilda e Vinícius concordam.



"...e agora o comentário de quem entende de futebol...Boa-noite Prof. Hildo, o que você tem a comentar sobre o Atletiba de hoje à tarde?...
Boa noite Léo e ouvintes, boa noite pra minha filhinha e minha esposa Mariuccia.."



Foi em meio a jogadores, súmulas de jogo, bolas, muitas bolas mesmo!!! chuteiras, meias, uniformes, apitos, medalhas, faixas de campeonato, recortes de jornal, radinhos de pilha sempre ligados em algum jogo de futebol que não passava ao mesmo tempo no TV (que exibia outro jogo), futebol, futebol, futebol...cresci assim.

Frequentando concentrações, acompanhando treinos, assistindo a jogos que pareciam nunca ter fim e passando finais de semana em campos inimagináveis, onde o que eu mais esperava era o delicioso e suculento pão com bife servido após os jogos. Não sou fã de carne, mas pão com bife de estádio de futebol é um dos meus pratos preferidos. Chego a sentir o cheiro e o gosto faz juntar água na boca.

Minha 1a lembrança neste ambiente tão familiar é de uns 3, 4 anos de idade. Pirralha metida, intimei Aníbal Kury (chefão do Atlético Paranaense) com um chute em sua gorda perna de senhor obeso, puxando-o pelo pano das calças e protestando contra o atraso do "bicho" do meu pai. Eu sabia que o "bicho" era importante, fazia minha feliz, era guardado na gaveta da sua penteadeira e rendia muitos presentes pra mim e aos meus primos. Mas não sabia exatamente que bicho era.

Hoje olho um campo vazio e tenho vontade de chorar. "Cada louco com suas manias!" Isso só começou depois da morte de meu pai. Eu nunca conheci alguém tão fascinado por futebol. Uma paixão desenvolvida desde moleque, quando repetiu a 1a série do Grupo Escolar Caramuru três vezes por conta de suas escapadas diárias (destino: campinho de várzea ao lado da linha de trem).

Ele apanhava do meu avô, mas não doía muito - colocava papelão no bumbum pra amortizar as cintadas. Não adiantava. Tomou gosto pela escola mas nunca perdeu um jogo sequer. Saía escondido de casa e dormia sujo com o uniforme do jogo, sem ninguém perceber que havia escapado.

Ele não apenas gostava de futebol. Tinha talento, enchia os olhos de quem o assistia jogando. Atacante dos principais times profissionais da época, foi convidado duas vezes pra jogar no Botafogo e uma vez pelo Fluminense. O pai, getulista, disse que futebol não era carreira e obrigou o filho a seguir na Aeronáutica.

Ele devia estar tão infeliz que logo após, já como Professor, começou a treinar alguns times. Foi chamado pelo Atlético Paranaense e tentou levar as duas coisas: a disciplinada vida de militar e a instável mas emocionante vida do esporte. Não foi possível. Teve que optar: e optou pelo futebol.


E mais tarde eu acabo de contar a história de um homem que amava o esporte, qualquer esporte, mas amava muito mais o futebol. E de como eu não me tornei nem sapatão e nem zagueira.