13 de fev. de 2009

SOLIDÃO

Saramago, em um de seus livros, faz uma longa dissertação sobre o viver sozinho. Como todo português e amante de fado - até eu, que nada tenho de portuguesa nem mesmo graças a Deus o buço, adoro fado -, Saramago é melancólico. Melancolia e solidão são bons ingredientes para uma bomba interior.
Sobre solidão eu discordo totalmente de Saramago. E amo Saramago. Amei mais, confesso. Na época em que era mais cabeça dura, radical e não colocava, sequer, qualquer pontuação em seus textos. Adorava me perder e ter que regressar sentenças para entender quem, afinal, falava o que...
Mas enfim, não é agora o momento oportuno para esta divagação...
O problema da solidão é que ela existe, sendo o indivíduo realmente solitário por opção, por conta do destino ou por carregar um vazio que milhares de pessoas próximas são incapazes de preencher.
Eu, por qualquer motivo que seja, e pode até ser patológico que me importa?!, não sinto solidão. O efeito colateral de quem ama ficar à vontade consigo mesmo, é que esta coisa da solidão é espaçosa e aos poucos invade sofás, canais, camas e qq espaço físico em que um ser, de carne e osso, possa ocupar. Digo mais. A solidão é espaçosa e ciumenta. Tem ciúmes das coisas tão suas e implica, como uma tia velha, com os pilares de seu governo.
Conheço gente que sofre da solidão doída de quem está sempre rodeado de outras "gentes" e sente o inferninho do vazio a lhe cutucar a alma. Tenho uma tia assim, que chora a própria dor por ela causada. Que nunca se sente plena pois está sempre a contar qual dos membros de seu clã está a causar-lhe tamanho mal-estar. Esta solidão não é amiga. Esta judia de quem não a compreende e de quem não entende seus gestos altruístas.
Esta tia vive a lamentar a falta de um, a morte de outro, a viagem de um terceiro. E como o time nunca há de se completar, ela vive a se torturar.
Até minha solidão que é amiga e opcional, está a me causar preocupação. Não que eu viva isolada. Tenho muitos amigos e uma família que, se de nada vale, pelo menos dá-me a sensação de paz quando vão embora... Mas há tempos tenho pensado nesta coisa que muitos me falam - e quando muitos falam a mesma coisa, se não é falta de assunto, seria a tal da sincronicidade (neologismo de supersticiosos criacionistas)? - que o homem não nasceu para viver só.
Se fosse assim, nasceríamos aos pares e morreríamos idem. Mas não. Quando lançados do aconchego materno para o planetinha azul, embora amparados por pai e mãe, somos todos sozinhos. E assim permanecemos vida afora. O amor por um, não faz olhos e coração cegos para a flechada do cupido que espera na virada da esquina. Não se morre coletivamente - a não ser nas grandes tragédias da humanidade. A função da solidão é soberana a da reprodução. De um coito faz-se outro ser. E pronto. Eis a função do acasalamento. Já a solidão não para por aí.
Enfim, argumentos de quem está bem consigo mesma e acha que ainda está pra nascer o homem que justifique o abandono desta teoria.

Um comentário:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.